sábado, 30 de março de 2013

Proj. Acervo documental "Mesopotâmia Mineira" nas Escolas

O objetivo das apresentações é a divulgação do trabalho realizado desde 2002, sob a coordenação do Professor especialista Geraldo Fernandes Fonte Boa, de organização, recuperação e catalogação de processos judiciais de Pará de Minas e região, dos séculos XIX e XX. O projeto visa ainda, implementar e desenvolver a pesquisa histórica da região delimitada pelos rios Pará e Paraopeba dentro das mais recentes correntes de pensamento da historiografia mundial. Essas correntes formam um conjunto de idéias, métodos e conceitos desenvolvidos por historiadores renomados da conhecida Escola dos ANNALES que teve como seus representantes e divulgadores Marc Bloch e Lucien Febvre. Complementando o desenvolvimento da historiografia clássica, porém, propondo uma reconstituição da história através da visão total da natureza humana, ou seja, a busca da interpretação do homem através da ampla produção material e espiritual (mentalidade), no seu cotidiano. Essas idéias nos levam ao estudo de todo e qualquer objeto – objeto aqui no sentido literal – produzido pelo homem comum, logo, os processos recuperados e catalogados pelo grupo são uma fonte inestimável de dados para a compreensão das relações sociais que hoje travamos, bem como uma “releitura” das ações de nossos antepassados.
Utilizando-se dessa corrente historiográfica como referencial teórico para análise dos documentos, cedidos pela justiça e sob nossa guarda, o grupo pretende ir além do que está escrito e, interpretando os dados dos documentos, trazer à luz uma nova visão da História de nossa região, conectando-a aos mais proeminentes fatos relatados da História. O trabalho desenvolvido contribui dessa forma, não apenas para construir o conhecimento sobre a natureza de nossas relações interpessoais e com o espaço geográfico (meio), desmistificando pessoas e fatos, sobretudo fornecendo subsídios para pesquisadores de outros locais e que se ocupam das pesquisas sobre a História do Brasil.
Outro ponto importante do trabalho do grupo é a divulgação do nome de Pará de Minas e região, projetando-a nacional e internacionalmente, tendo em vista os padrões internacionais de organização, catalogação e disponibilização dos dados,utilizando-se ainda, dos modernos meios eletrônicos (internet) disponíveis no momento.
Funcionando no Museu Histórico de Pará de Minas – onde encontra-se um acervo de mais de dois mil documentos entre inventários, processos crimes, arrolamentos, execução de dívida, etc. – e no Centro de Pesquisa e História Regional da Faculdade de Pará de Minas, com um acervo de dois mil e duzentos documentos, o grupo conta hoje com o trabalho voluntário de oito pesquisadores que não medem esforços, apesar das dificuldades financeiras e de ordem estrutural, no trabalho de catalogação e pesquisa. Eles literalmente “põem a mão na massa”.
Além da divulgação dos trabalhos do grupo, tentamos conscientizar as pessoas da necessidade e importância da conservação da memória histórica de nossa região. Conclamamos todos para uma cruzada de conservação dos documentos antigos de suas famílias; desde bilhetes, pedaços de papel escrito, listas de compras, até documentos de valor jurídico. Ressaltamos que, caso não tenham interesse ou condições de guardá-los na própria residência, poderiam encaminhá-los ao Museu Histórico de Pará de Minas, onde receberão toda atenção e os cuidados para o devido arquivamento e conservação para posteriores pesquisas.
No decorrer dos anos as pesquisas se aprofundaram e diversificaram em vários eixos. A cultura material é um dos eixos pesquisados e visa conhecer as relações comerciais com o meio e sua interferência nas relações sociais, além de criar, no decorrer do levantamento dos dados, um banco de dados estatístico da atividade econômica da região, no século XIX. As relações sociais entre senhores e escravos, fazendeiros e roceiros, profissionais liberais e comerciantes são contempladas através de artigos acadêmicos e artigos para o jornal. A escravidão é assunto sempre em pauta nas discussões com inúmeros artigos, trabalhos acadêmicos e trabalhos de conclusão de curso (monografia). Destacamos aqui, uma pesquisa sobre a “Brecha camponesa”. “Brecha camponesa” é um termo cunhado pelos historiadores na década de 70, destacando-se Ciro Flamarion Cardoso e Jacob Gorender. Não detalharemos aqui sobre a “Brecha Camponesa”, pois, será assunto de outros artigos. As relações afetivas e a mentalidade são temas importantes e considerados nas pesquisas do grupo; destacamos um processo de divórcio em 1895, que está sendo analisado e poderá vir a ser utilizado na pesquisa de doutorado de uma historiadora da Universidade Federal de Minas Gerais. O trabalho é grande e importante para o entendimento sobre a nossa região, de posse desse conhecimento tentamos dar um novo significado para o nosso presente atuando continuamente para a construção de um futuro melhor para todos e para o meio em que vivemos.
Estamos convictos que o trabalho do grupo na conservação dos documentos interferirá sobremaneira nas pesquisas futuras, que talvez sejam baseadas em mídias eletrônicas e, como sabemos, este meio ainda apresenta problemas para preservação dos dados, além de tornarem-se obsoletos muito rapidamente. Receamos pelas fontes que estarão disponíveis para os futuros pesquisadores. Daqui a alguns anos, talvez toda a História de um povo venha a se perder em apenas um clique.
Finalizando, o grupo Acervo Documental “Mesopotâmia Mineira” gostaria de agradecer ao convite dos coordenadores dessa promoção, às diretoras, professores e demais funcionários das escolas, alunos e pais. Em especial, ao professor Edmar Bernardes pelo apoio na divulgação dos trabalhos.

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Referências

Artigo publicado no Jornal Diário em 10 de dezembro de 2007. Escrito por: Joandre Oliveira Melo, integrante do grupo Mesopotâmia Mineira:


Projeto Mesopotâmia: Geraldo F. Fonte Boa (Professor da FAPAM e Coord. do Projeto. E-mail: phonteboa@gmail.com.br), Flávio M. S. (Coord. Curso de História FAPAM. HP: www.nwm.com.br/fms), Ana Maria Campos (MUSPAM); Professores formados em História na FAPAM: Alaércio Delfino, Alfredo Couto, Damary de Carvalho, Geraldo Rodrigues, Hoffman Elias e Joandre Oliveira Melo. Aluna do curso de História/Fapam: Isabel Moura. Site FAPAM: www.fapam.edu.br

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